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terça-feira, 16 de junho de 2009

Arte Marcial - Uma viagem via Roma e China

A palavra ARTE simboliza algo realizado por um ser capaz, eminente, com habilidade, perícia e sabedoria. A raiz do termo em latim, ARS, implica o sentido de imaginar, inventar, além do de acomodar, adaptar.
Arte e ofício manual coincidem no sentido em que ambos produzem uma obra sensorialmente perceptível. Contudo o ofício manual tem em mira o utilizável, o proveitoso, ao passo que a arte se aplica ao belo. Há beleza natural na medida em que as coisas manifestam, de maneira luminosa, as idéias contidas nelas. A beleza artística de não se limitar a ser mera repetição ou cópia fiel da beleza natural.
À arte é permitido fazer que as idéias brilhem com profundeza e vigor inteiramente nova e que os mais indecifráveis segredos da existência transpareçam em suas obras.
Sua tarefa principal consiste, não em reproduzir coisas, mas em manifestar idéias.
A arte exige, essencialmente intuitividade sensorial, e estas formas constituem sua linguagem , sendo que a expressão sensível não pertence necessariamente à beleza em si.
O termo MARCIAL é derivado de Marte,nome latino de ARES, deus da guerra na mitologia grega. Ele era uma das doze divindades do Olimpo , sendo filho de Júpiter e Juno. Marte foi educado por Príapo, com quem aprendeu a dança e outros exercícios corporais, prelúdios da guerra.
Os romanos tornaram Marte a mais importante de suas divindades, consideravam-no pai de Rômulo e Remo, os fundadores de Roma. Inicialmente, cultuavam-no como o deus das tempestades, invocavam-no para impedir que seus efeitos maléficos – chuvas fortes granizo e neve- destruíssem as plantações. Mais tarde, provavelmente identificando a idéia de força instintiva contida na tempestade,os romanos o transformaram num deus guerreiro, o protetor de suas lutas e conquistas. Nenhum empreendimento era planejado sem antes consultá-lo.
Neste contexto, Marte está representando em duas categorias: Nodons, o rei-sacerdote, saído da classe guerreira, mas que exerce uma função sacerdotal; e Ogmios, o deus dos elos, que é o campeão, mestre do combate com as mão livres, da magia e do poder desconhecido.

Domínio das paixões brutais

A guerra representa muitas idéias e Marte, dentro da mitologia romana, simbolizava a guerra interior.
Em Roma, as numerosas festas em seu louvor tinham um caráter de purificação, pois os romanos acreditavam que a natureza ficava mais limpa e pura após uma forte tempestade. Depois de cada batalha vitoriosa eram realizadas festas que destacavam o caráter militar da divindade.
Nos mistérios de Marte, nome comum dado em Roma aos cultos que se celebravam ao deus da guerra, entendia-se que todo o caminho guerreiro levava o celebrante à reunificação final.
Essa busca, que o homem desde os tempos imemoráveis procura dentro de seu ser, justifica-se em virtude da percepção consciente ou inconsciente de que ele perdeu algo dentro de si mesmo, algo de valor inestimável. Nos dias atuais, mais do que nunca, o ser humano sente a necessidade de reunir-se com si próprio.
As artes marciais , pelo que Marte representava, simbolizam evolução espiritual através do domínio das paixões brutais. Como já dissemos, o termo arte marcial vem de Marte, o deus da guerra da mitologia romana. Paralelamente, o ideograma chinês no dialeto mandarim, WU, poderia perfeitamente ser traduzido por marcial.
Em chinês, marcial é representando por um ideograma composta por dois caracteres – GE e GY. O primeiro representa o machado, uma das armas mais utilizadas na antiga china; sendo o segundo significa para ou deter. Em outras palavras, Wu (marcial) simboliza a defesa contra uma arma, indicando a ação contra a violência, a defesa, contra as mais diversas agressões, quer sejam elas físicas ou não.
Para firmar esta idéia, destacamos um antigo poema chinês:
“Aprenda as formas de preservar antes das de destruir. Evite antes de repelir,
Repila antes de ferir,
Fira antes de aleijar,
Aleije antes de matar,
Por que toda a vida é preciosa e nunca pode ser substituída.”
Os chineses acreditam que na natureza o homem é o ponto de equilíbrio entre o Céu a Terra. Nas artes marciais chinesas a pratica física da arte é penas o seu aspecto mais tangível, serve apenas de instrumento para que o praticante se enverede e compreenda o verdadeiro significado de sua senda.
Eles também acreditam que o homem está em total desarmonia com o universo em virtude do afastamento de sua natureza original. Desta forma, o principal motivo da infelicidade humana é o afastamento de si próprio.
A arte marcial e convertida, assim, numa das mais eficazes formas idealizadas pelo povo chinês, através de uma sabia cultura milenar, para que os ser humano se harmonize consigo próprio e cm as coisas que o rodeiam.

O corpo nunca mente


O homem, por viver em grupo, necessita receber e transmitir informações para edificar sua personalidade, implicando na necessidade de perceber e externalizar o que ele sente e pensa. Neste processo comunicativo observamos que a linguagem corporal resulta na primeira forma manifestativa do nosso “eu”.
Sem duvida, este tipo de linguagem se tornou mais elaborado quando nos transformamos de quadrúpede em bípede.
Esta mudança proporcionou a liberdade das mãos, que passaram a manipular o meio transformando-se no grande instrumento de manifestação do homem.
È dito que o corpo, através de sua linguagem, nunca mente e grandes pensadores chineses concluíram que em nosso corpo ficam registradas todas as experiências vividas por um ser humano, ao nível consciente ou não.
O corpo pode ser empregado das mais variadas formas, com as mais variadas manifestações. Por seu poder de comunicação, os movimentos passaram a integrar o processo educacional da sociedade chinesa, percebendo-se uma relação íntima entre os movimentos do corpo e os da natureza que o cerca.
O movimento, desde os primórdios da raça humana, tem sido utilizado para representar aquilo que o homem pensa e sente.
Talvez, por isso os gestos de autodefesa sejam os mais significativos dentro da linguagem corporal, pois manifestam o instinto de preservação da espécie, que é comum em todos os seres vivos.
Esta é uma das razões pela s quais as artes marciais chinesas continuem a ter grande utilidade nos dias de hoje. Seu valor maior não esta em ser uma arte de combate, mas sim em preservar o combate, lá que através desta simbologia os movimentos podem atuar de forma global no individuo podendo servir como instrumento na sua formação física, intelectual e emocional. È por esta razão que os sábios chineses, do presente e do passado utilizam a linguagem corporal para compreender e serem compreendidos em questões que a racionalização, por si só, é incapaz de resolver.
Neste momento é oportuno esclarecer a que tipo de guerra estamos nos referindo.
De maneira ideal, a guerra tem por fim o restabelecimento da paz, da justiça, da harmonia, nos planos cósmicos e social (como no caso das sociedades chinesas antigas). A guerra representa a manifestação defensiva da vida. È o domínio da ação, do combate pela unificação do ser.

Centenas de estilos
Quando se fala de guerra nos textos tradicionais chineses, a expressão deve ser compreendida também no sentido espiritual.
Não se trata apenas de uma guerra exterior, mas sim a luta que o homem trava consigo próprio. È o confronto das trevas e da luz no homem. Cumpre-se na passagem da ignorância para o conhecimento.
Assim, concluímos que as artes marciais são uma das mais importantes formas de expressão corporal encontradas pelo povo chinês para possibilitar a absorção plena de seu aprendizado nos mais diferentes campos de atuação.
A história das artes marciais chinesas é rica e variada. Existem centenas de modalidades, subdivididas em outras centenas de estilos. Cada um destes estilos possuem dezenas de diferentes linhas ou escolas. A diversidade intrínseca das artes marciais chinesas torna seu estudo dificultoso e árduo.
Por essa razão, a classificação didática das artes marciais chinesas torna-se imperativa para que o estudioso tenha condições de situar-se quanto à sua vasta abrangência.



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